estreia
Ler Lusíadas sem preocupação de saber que estamos a ler um poema épico que tem 10 cantos com estrofes de oito versos, com dez sílabas cada verso, blábláblá blábláblá; que tem proposição, invocação, dedicatória e blábláblá blábláblá, ah e a famosa narração in medias res, blábláblá blábláblá.
Já sabemos isso tudo. Aprendemos na escola. Está aprendido. Agora falta ler Os Lusíadas como se lê um livro. Ler em voz alta. Abrindo, lendo e ouvindo. Pelo prazer de escutar os sons, os ritmos, as emoções, pelo prazer de sentir as palavras na boca, de as saborear, mastigar, cuspir, blábláblá blábláblá.
Ou, citando António José Saraiva, [Os Lusíadas] “é um livro para ser entoado por recitadores, e não analisado por gramáticos. Por vezes interessa pouco o que ele diz, e vale só a língua sonora que percorre os vários graus da escala, uma palavra que esplende, um som rouco de queixa ou um gesto teatral que se entrevê.”* Blábláblá blábláblá.
*em Estudos sobre a arte d’Os Lusíadas