Quando penso no meu trabalho, quando penso em tudo o que tenho feito desde o início, e no que me dizem as pessoas no final das apresentações, e assim por diante — penso em Solidão. Na medida e no sentido em que somos sós. Na medida e no sentido em que somos uma experiência única, e guardamos dentro de cada um de nós coisas que ninguém mais conhece. Na medida e no sentido em que somos únicos, e todos diferentes uns dos outros.
O medo de incompreensão está em todos nós, vive e manifesta-se na sensação de solidão que nos habita.
O meu modo de pensar – ao pensar tudo isto – não é o de lançar um olhar “filosófico” sobre a vida, mas antes pensar para chegar a criar. Só eu posso fazer, só eu posso trazer à vida as minhas próprias criações. Quando as mostro, contudo, elas ficam expostas na sua transparência, literalmente: cada um dos espectadores pode olhar para o seu interior, e ver o que possuem de mais íntimo. Digo-o de novo: somos cada um um ser único, e, no entanto, em tudo feitos da mesma matéria. Tudo o que eu fizer emerge do fundo do meu ser, e, no entanto, possui a capacidade de atingir o ser de um outro. É isso o que mais estimo e o que mais me prende à criação artística: uma partilha de sensações que nos levam até pensamentos guardados e silenciados. É isso pelo menos o que tento fazer.
Escrevo esta introdução para de algum modo explicar o que muitas vezes deveras não sei explicar. Não sei como me seria possível iluminar e apontar a razão pela qual chegam até mim certas idéias criativas, o modo como surgem à minha frente – o porquê desta vontade de criar, de dar a ver o que acabei de criar. Em contrapartida, depois de estar concluída uma peça, sou capaz de falar sobre ela com maior facilidade. Nesse momento, quando passou já todo o processo de criação – encadear os pensamentos apenas para os baralhar de novo uma vez mais −, descubro nela mil e uma coisas de que não me apercebi inicialmente.
Tânia Carvalho
Direção e coreografia Tânia Carvalho
Interpretação Joana Gama, Luis Guerra, Luiz Antunes e Sandra Rosado
Música original Diogo Alvim
Figurinos Aleksandar Protic
Caracterização Tânia Carvalho
Direção técnica som e luz Zeca Iglesias
Produção e difusão Sofia Matos
Produção BOMBA SUICIDA
Coprodução Teatro Viriato (Viseu)
Residência artística
O Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo), Cine Teatro S. Pedro (Alcanena) e Teatro Viriato (Viseu)Apoio
Alkantara (Lisboa)
Fotografia Margarida Dias