E SE?
E se Erik Satie abandonasse o seu eterno off-stage e aparecesse na festa musical-culinária à deux dos amigos artistas John Cage e Hans Otte?
Devido à ligação interior entre música, sons e silêncio, prazeres visuais verbais e sensuais, compositores, intérpretes e público, surgiria, ao vivo, onstage, um casamento poético com todos estes ingredientes.
SOBRE
J-CHOES (JC para John Cage, HO para Hans Otte, ES para Erik Satie) é uma obra de novo teatro musical escrita de forma colaborativa por Ingo Ahmels (Alemanha) e Lou Simard (Canadá).
Cheia de humor poético e lúdico, J-CHOES oferece, de forma despretensiosa, tentadoras jóias da história musical do século XX, desde Erik Satie e Arnold Schoenberg a John Cage e Hans Otte.
J-CHOES conta uma história simpática e calorosa com um subtexto sério, mas cujo conhecimento não é necessário para a apreciação da peça.
Com direcção de Lou Simard, encenadora e antigo membro do círculo Robert Lepage, o espectáculo de oitenta minutos é interpretado com uma precisão lúdica. Os três actores-pianistas são a inimitável Margaret Leng Tan (John Cage), Joana Gama (Hans Otte) e Ingo Ahmels (Erik Satie).
O palco de J-CHOES está dividido em três áreas diferenciadas em termos de actividade e de diálogo. À esquerda, os pianistas tocam música para piano e piano preparado. À direita, dentro da “Cozinha Inner Landscape” de Cage, gestos lentos e concentrados são realizados atrás de um ecrã, resultando, para o deleite do público, numa peça de teatro de sombras. A zona central é reservada a meras actividades quotidianas como a preparação de uma deliciosa refeição de filetes de partituras musicais ou a celebrando um (Sa)Tea-Time.
Ao longo do caminho, surgem formas inventivas de alistar bancos de piano. Para além do piano de cauda, tratam-se dos únicos adereços substanciais da peça.
Com o seu diálogo mínimo a desenrolar-se num espaço de tempo vazio, mas simultaneamente abundante, J-CHOES toca no sentido de humor absurdo de Samuel Beckett. Em J-CHOES, porém, ninguém está à espera de Godot!
Para citar John Cage, J-CHOES poderia ser caracterizado como “poesia, tal como preciso dela”. J-CHOES não tem de facto "nada a dizer" e, no entanto, está "a dizê-lo". Ao fazê-lo, esforça-se por destilar a essência da palavra ocasional, sons de piano, imagens, gestos - e silêncio.
AÇÃO
John Cage e Hans Otte encontram-se no loft de Cage na Sixth Avenue em Nova Iorque no Outono de 1991.
John convidou o seu amigo compositor Hans de Bremen, Alemanha, para uma "Gastmahl (festa) à deux".
Por impulso, tocam música de piano um para o outro.
Eles ouvem, riem e, juntos, preparam os ingredientes invulgares do menu especial de três pratos planeado pelo anfitrião. Para o efeito, fazem filetes de partituras de "pedras preciosas musicais".
Um matsutake revela-se e junta-se.
John Cage cozinha. A mesa está posta, a refeição pronta a comer.
Inicialmente não observado, Erik Satie (temporariamente trazido de volta à vida pela peça n.º 9 de “O Livro dos Sons“ de Otte) desce do escadote que conduz directamente à cozinha de Cage.
Satie, faminto de algo novo (Vous m'avez appelé? J'ai faim!), é convidado pelos amigos, inicialmente perplexos, a partilhar a sua festa culinária de notas musicais.
A sobremesa na “Cozinha Inner Landacape” de Cage culmina no elegante grande finale, o “Concerto Inaudível" interpretado pelas três personagens do piano.