Partindo-se do texto do monólogo de Anton Tchekhov, “Os Malefícios do Tabaco”, desenha-se uma linha paralela na evolução do Teatro e da Justiça, e desenvolve-se uma reflexão ironicamente crítica sobre o nosso tempo, no qual se confrontam o pragmático e o utópico, a ação sem pensamento e a busca criativa do futuro.
“Julgar uma pessoa não passa apenas por apreciar um ato, mas também por penetrar num encadeamento de eventos inextrincáveis e imputar um deles a uma história em particular…Julgar é um distanciamento permanente, um trabalho iniciado pelo símbolo e concluído pelo discurso. Uma vez terminados os debates o juiz não fica completamente livre desse trabalho de distanciamento. O rito não é apenas uma bola de ferro presa à perna do juiz, é também um meio de este último se emancipar de si mesmo. É disso testemunha a ritualização da deliberação, ou até a própria decisão.”
Transformássemo-nos nós, à maneira de Pirandello, em personagens à procura de um autor, e poucos chegaríamos a identificar em Antoine Garapon a autoria de texto que antecede, de tal maneira ele nos convida a remetê-lo para o pensamento de Bertolt Brecht e para a consideração do seu tão decantado Verfremdungseffekt, ou efeito de distanciação ou estranhamento. E, todavia, é do primeiro que se trata.
Ele também «Gents de Justice», como diria Daumier, falando, porém, como se de Teatro fosse, e interpelando-nos, ainda ele, a pesquisar em busca do segredo que ata o Teatro e a Justiça num laço que o tempo e a História jamais lograram desatar. Tempo, esse, para o qual nos proporemos aqui olhar de longe.
Álvaro Laborinho Lúcio
Coorganização Teatro Viriato e Congresso Nacional da Ordem dos Advogados
CONVERSA
Intervenientes Álvaro Laborinho Lúcio, Fraga (Encenador)
e Guilherme Figueiredo (Bastonário da Ordem dos Advogados)
© Celeste Domingues