Já se tinham aproximado do arsenal de formas enigmáticas de Álvaro Lapa (1939-2006), artista que legou ao real quotidiano uma obra onde a pintura e a escrita se cruzam, numa diversidade de referências literárias, pictóricas e filosóficas. Agora, Ana Deus (uma das forças criativas dos Três Tristes Tigres e Osso Vaidoso) e João Sousa Cardoso (artista plástico que trabalha no cruzamento da estética com as ciências sociais) desviam para o palco Raso como o Chão (1977), um dos seus textos mais intensos. Um espetáculo para uma cantora e um conferencista, encarnados nos corpos e nas vozes destes cultores de um teatro desalinhado, autodidata, urgente.
Raso como o Chão lembra a tradição, a revolução e as comunidades de desejo, explora a articulação entre o tema e a sua variação, a literatura, o escrito pessoal e a informação, o recorte, a colagem e a repetição. E lembra ainda um conjunto de canções que permitem uma viva reflexão sobre o país, ontem e hoje, e o ânimo criativo que a linguagem pode mobilizar.
Imagens e comentário João Sousa Cardoso
Leitura e canções Ana Deus
Produção Três Quatro Lente
Fotografia João Tuna