Pedimos emprestado a José Saramago o título da sua obra para mergulharmos, como ele, em Portugal – no seu passado como no seu presente. Partindo das histórias familiares dos membros da equipa do Teatro do Vestido, localizadas em diversas regiões de Portugal – Minho, Ribatejo, Alentejo, Beira Alta, Algarve – lançamo-nos com este projecto no encalço da resposta à nossa pergunta de sempre – como chegámos até aqui?, mas mergulhando desta feita no(s) interior(es) do país, suas paisagens, pessoas, legados históricos e presentes. Que heranças de 48 anos de ditadura aí perduraram ou perduram? Quando se deram os saltos de mobilidade social que nos fizeram reunirmo-nos enquanto equipa na capital do país, todos detentores de cursos superiores, ao contrário das gerações que nos antecederam? Que Portugal é este que habitamos e de onde vimos? Daí a pergunta pertinente de José Saramago, “Afinal, que viajar é este?”
Viagens poéticas, geografias poéticas, cartografias das nossas histórias de vida, genealogias várias dos quatro cantos do país. Bem-vindos ao nosso retrato possível de um Portugal a várias cores, várias velocidades, várias paragens.
O projecto viagem a Portugal iniciou-se oficialmente em Janeiro passado, com a colaboração com as Comédias do Minho – chamámos-lhe Paragem Minho. Foi toda uma viagem. Depois chegámos ao Centro, que andávamos a rondar e a percorrer desde o ano passado. Foi em colaboração com o Festival Materiais Diversos, em Alcanena, em Setembro. E, agora, Viseu. Uma paragem singular que marca o fim da viagem sem fim.
Estamos confusos, perdidos, em procura, em busca, em percurso. Estamos com Sophia, com Saramago, com José Mário, estamos com todos os que quiseram acompanhar-nos, estamos com os que passaram fronteiras nas diferentes épocas, em busca de uma vida melhor.
Ou seja, não estamos sozinhos, e isso é bom.
Isso ajuda-nos quando as estradas desparecem atrás de nós, ou se tornam demasiado estreitas para a passagem.
Esta Viagem a Portugal não foi pensada como manifesto, mas como pergunta.