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Programa janeiro/julho 2020
Escrevo este editorial no dia em que a Comunicação Social nos recorda que oito jovens migrantes, entre os 16 e os 20 anos, desembarcaram na praia de Monte Gordo, no Algarve. E, nas entrelinhas desta notícia, reflito sobre os mais jovens e sobre a responsabilidade de todos na construção do seu futuro.

Adeus disse a Monte-Gordo (nada o prende ao passado)
Mas nada o prende ao presente
Se só ele é o enganado
in Índios da Meia-Praia, Zeca Afonso 

Acredito cada vez mais na riqueza de um TEATRO, no tanto que pode dar a todos. E em relação aos jovens acredito, particularmente, no privilégio de fazê-los pensar o mundo a partir do seu lugar. 
Acredito, sobretudo, baseada na experiência do Teatro Viriato que temos testemunhado. Um dia, a propósito do K Cena – Projeto Lusófono de Teatro Jovem, comentei com o Graeme Pulleyn que sempre me questionei sobre o facto da sociedade tender a subestimar os jovens: não os questionando, não os escutando. O exercício de ouvir uma criança?... Haverá poesia maior? Imaginem uma assembleia, uma assembleia de homens e de mulheres, adultos de um lado e jovens e crianças do outro. Imaginem os adultos a desfalecer... imaginem o momento em que, em assembleia, os jovens e as crianças exigem responsabilidades aos adultos pelo estado do mundo...

Eram mulheres e crianças
Cada um c’o seu tijolo
“Isto aqui era uma orquestra”
Quem diz o contrário é tolo
in Índios da Meia-Praia, Zeca Afonso 

Em 2020, a programação do Teatro Viriato continuará fiel à sua missão, acreditando que os artistas alimentam o pensamento de uma sociedade onde cabem crianças, jovens e adultos. E aos jovens pedimos a maior atenção pois esta programação dar-vos-á espaço para desenvolverem a vossa capacidade de argumentação, o vosso pensamento próprio, a vossa reflexão e a vossa discussão.

O Teatro Viriato continuará a ser um local de encontros para todos, e pela voz dos artistas vamos mergulhar em questões que continuam a ser prementes: o papel da mulher, da religião, da política, do capitalismo, da inclusão, da exclusão, da reclusão, da justiça, da memória, do poder, da criação artística e da arte na sociedade. Para tudo isto, convocámos várias gerações de artistas, comprometemo-nos com parceiros locais e nacionais, estabelecemos pontes com o internacional, engajamos cidadãos em projetos artísticos que tocam a esfera do social. O Teatro Viriato continuará fiel ao princípio da “desconcentração cultural” (in Artes e Ideias da Desconcentração, João Luis Oliva), porque Viseu é mundo.
Como sempre nos diz o Marcio Meirelles (encenador e diretor do Teatro Vila Velha, em Salvador da Bahia, Brasil), parafraseando James Matthew Barrie, em Peter Pan: “Sempre em frente até ao amanhecer...” seguimos.

Das eleições acabadas
Do resultado previsto
Saiu o que tendes visto
Muitas obras embargadas

Mas não por vontade própria
Porque a luta continua
Pois é dele a sua história
E o povo saiu à rua
in Índios da Meia-Praia, Zeca Afonso 

Paula Garcia


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