Há alguns anos atrás, na primeira vez em que o Sérgio Godinho veio ao Teatro Viriato acompanhado pelos Clã, o Dr. José Moreira Amaral, então vereador da Cultura, da Câmara Municipal de Viseu entusiasmou-se por poder privar com um artista que fazia parte das suas referências passadas e da sua formação, enquanto cidadão. Este desabafo marcou-me porque naquele momento estava a senti-lo exactamente da mesma forma. Confesso que a sensação vivida na altura me tem acompanhado e, sobretudo, tem-se tornado cada vez mais forte. O privilégio de trazer a Viseu figuras incontornáveis da Cultura nacional e internacional é um factor determinante para a vida do Teatro e da Cidade. É desta forma que deixamos de ser periféricos, é desta forma que deixamos de estar isolados, é desta forma que deixamos de ser elitistas, porque somos acessíveis e pas
samos a poder dialogar e privar com as maiores figuras da cultura... universal! Efectivamente, este ano que termina permitiunos partilhar convosco, através do nosso Teatro, a companhia do Peter Brook e da Marie Chouinard, entre muitos outros.
Mas para 2010 há mais. Abrimos com o genial e tão inacessível Tom Zé, pai, avô da grande música popular brasileira; um fenómeno de criatividade e juventude intemporal. Este auspicioso inicio de ano, possível graças a uma parceria feliz com o Centro Cultural Vila Flor de Guimarães, prossegue com uma programação que, em termos teatrais, assenta num conceito forte de monólogos no feminino, que passam por desempenhos de muitas figuras, das mais emergentes, às mais consagradas, numa espécie de homenagem à longevidade da condição feminina no teatro. E, neste arranque de um novo ano, importa ainda não omitir o contributo ímpar e essencial de um Zé Pedro Gomes que, para além de ser um actor de todas as dramaturgias é um verdadeiro terapeuta do Riso. Exercício cada vez mais essencial à nossa cada vez mais pequena dimensão lusitana... Depois… há mais, muito mais. Por exemplo, o Novo Circo, momento festivo e de encantamento para todas as idades e ainda a convocação em pleno de todos os artistas da cidade e da região que fazem do Teatro Viriato o seu espaço de afirmação, pesquisa e celebração.
Recentemente, o diário francês Le Monde publicou um artigo muito elogioso sobre o meu trabalho, enquanto coreógrafo. Curiosamente, referia o facto de ter desaparecido de França nos últimos dez anos... que são afinal os anos celebrados pelo Viriato! Confesso que me
fez sorrir. Se desaparecer é tão proveitosamente singular, então, façamo-lo uma vez mais todos juntos para que a Europa veja de uma vez por todas aquilo que realmente conseguimos fazer quando desaparecemos. É... quase, como ir para o mar! É e sempre foi a nossa epopeia!
Paulo Ribeiro