Que estrondo, que estranho, de repente, tudo parece desmoronar-se.
Fomos ou estamos a ser assolados por uma epidemia material. O capital não é concreto, mas sim uma coisa abstracta, imaterial, que põe e dispõe na soberania dos Estados. Estamos a chegar ao grau zero da personalidade e da autonomia, dando lugar a uma espécie de comportamento acéfalo global em que o indivíduo não é mais do que um número. Exactamente a antítese do nosso imaterial que procura dignificar e elevar a condição humana. Por ironia, a ausência de matéria é nuclear no actual contexto social; dando lugar a um conceito de imaterial que ou nos aniquila ou nos eleva. Sem dúvida, que aquele que merece mais a nossa atenção é a segunda forma, que se deve consolidar e enriquecer.
Programar é um exercício de sorte e criatividade e, depois, de uma enorme solidariedade que agrega criativos, pedagogos,
anónimos, enfim, o público em geral que dá vida e personaliza uma cidade. A cidade de Viseu está no mapa ao mesmo nível que outro lugar do mundo civilizado, basta olhar para trás e folhear para a frente a oferta do Teatro Viriato, para perceber que esta terra não pode ser aniquilada, da mesma forma que o futuro imaterial da nossa cultura ou das nossas culturas, também não o pode ser. Haverá sempre um rasgo de génio, haverá sempre alguém com uma voz diferente que seja profundamente identitário. A nossa missão é essa de contribuir para a identidade de um Pais sem preferências geográficas.
Quanto ao resto é uma questão de solidariedade, o retrocesso também tem limites, ou será que voltaremos a ter que nos deslocar por tracção animal?!
Paulo Ribeiro