Ser ou não ser,
Estar ou não estar
Ser mas não estar
Estar sem o ser.
Hoje estamos ausentes na presença, ligados à corrente, ao telemóvel, à plataforma digital que nos deixa cumprir o horário de trabalho no local da família e do lazer.
E estamos presentes na ausência, relembrados pelas cadeiras vazias em teatros e cinemas, em jantares e aniversários. Passamos o tempo a pensar que queríamos estar noutro lado, porque longe daqueles que amamos e que estão doentes. Distantes.
Ser e não estar
Estar sem o ser,
Será mais nobre aceitar o infortúnio, resignada.
Ou insurgir-me contra as provocações e os impropérios, contra as injustiças e as desigualdades?
Estaremos mais à altura quando vamos à luta
Ou quando, imóveis, decidimos pôr fim à angústia com o sono, empurrando a dor para o dia seguinte, até à morte?
Dormir, talvez sonhar, com a presença dos ausentes,
Com a ausência de um contágio que não convidámos a entrar no nosso estar.
Ser e não ser
Estar e não estar.
Este trimestre convocamos a sua presença – física, grande, pronta, decidida, de todo o ser – no nosso teatro. Queremos ouvir a plateia, aplaudindo, pateando, discordando, acrescentando, sempre, a tudo o que apresentamos.
Queremos saber a altura e o cheiro do nosso público, como se ri, como entra na sala, se sai a correr ou se fica para conhecer os artistas e dar a sua opinião.
Queremos conversar. Através da arte e através do encontro, antes e depois de cada espetáculo. Porque são as cogitações que constroem os obstáculos e a melancolia, a vontade de escapar ao tumulto da existência através do repouso e da morte. Mas também são, na presença de outro, daquele que de nós difere, o que nos acorda, o que nos faz amenizar o cenário mais negro, o que nos dá coragem para enfrentar todos os males, a irrisão do mundo.
O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso, o desprezo do amor, a insolência oficial, as dilações da lei, a impaciência dos tempos, o mérito imerecido dos traidores.
É o pensamento que nos acobarda perante a possibilidade da morte, e é esse medo, na companhia de outros que connosco partilham tantas ansiedades, o que nos conduz à possibilidade da ação.
O teatro é esse lugar onde todas as noites se está para se poder ser, e onde se é tanta coisa, quando não se pode estar em mais lado nenhum.
Ação, Palavra, Missão. É isto a questão!
Nos próximos meses desafiamo-lo a ser nosso espectador regular e ter muita dificuldade nas suas escolhas.
Como escolher entre o manifesto de 14 adolescentes sobre a violência verbal e física exercida sobre as mulheres nas ruas do Chile e a música de TRISTANY ou DINO D’ SANTIAGO que nos misturam as almas, os mundos, as referências e os estados de espírito?
Como escolher entre a MALA VOADORA, que nos conta a história de uma mulher que vê o seu corpo desintegrar-se à velocidade da decomposição do mundo, as inquietações do TEATRO DO VESTIDO ou ainda a história desconhecida e não reconhecida da luta pela dignidade do trabalho doméstico apresentada e esmiuçada na obra de SARA BARROS LEITÃO?
E no cinema, como escolher entre a instalação “Natureza Fantasma”, de Marco Martins, apresentada num espaço alternativo, no Piso -3 do FORUM VISEU, ou toda a programação do VISTACURTA do nosso parceiro Cine Clube de Viseu?
E há quanto tempo não vê um espetáculo dos PRAGA, ou do projeto Dançando com a Diferença ou do coreógrafo PAULO RIBEIRO que celebra com o espetáculo “Segunda 2” os 26 anos da sua Companhia?
E poderíamos continuar, mas na verdade o que desejamos é que escolha, sem pensar duas vezes, comprar uma assinatura e seguir a nossa programação toda até ao final de dezembro. Haverá algum espetáculo que queira mesmo perder?
Venha estar connosco e transformar-se connosco. Venha ser connosco: Ação, Palavra, Missão. E participar, sempre connosco, nas conversas, nos debates, desenhando, connosco, depois de cada espetáculo, propostas futuras que contamos pôr em prática, em cena e em estado de ser, no programa seguinte.
Façamos-nos companhia, para que juntos, possamos acompanhar estes tempos, cuidando deles, cuidando uns dos outros, interpretando--nos, oferecendo-nos novos rumos e novas perspetivas.
Patrícia Portela
(Direção Artística)